Carlos Augusto Petersen Parchen
Muitas vezes nos referimos a morte de uma pessoa
como "tendo chegado a hora", ou ainda "ninguém morre antes da
hora".
Daí a pergunta que muitos fazem: temos pré-determinada a hora de nossa morte?
Ninguém morre antes da hora determinada?
Dentro da visão espírita, temos que analisar dois aspectos importantes quando
do nascimento (reencarnação) de um ser humano.
O primeiro aspecto é o potencial genético do corpo formado, resultante da fusão
de óvulo e espermatozóide, que determinam a formação de um corpo com
determinados potenciais e determinadas limitações.
O segundo aspecto é o potencial energético do perispírito, pois este último
promove a ligação do espírito com o corpo físico, arrastando para esse corpo
energias positivas e/ou negativas, de acordo com as suas características
evolutivas específicas. Essas energias provocam alterações nos potenciais
genéticos e de funcionamento do corpo físico.
Da interação entre esses dois aspectos no complexo humano
(corpo+perispírito+espírito), temos, teoricamente, estabelecido um potencial de
vitalidade ou de energia vital que, em tese, determina um potencial máximo de
vida para aquele organismo, ou se quiser simplificar, um tempo máximo de vida orgânica.
Colocamos e destacamos "em tese", pois o exercício do livre arbítrio
leva ao perispírito possibilidades de alterar suas características energéticas,
com energias positivas ou negativas, o que, por sua vez, altera o potencial de
energia vital do complexo humano. Essa alteração pode melhorar ou piorar o
potencial de energias vitais.
Da mesma forma, o nosso livre arbítrio também nos leva a utilizar o nosso
patrimônio físico, com maior ou menor cuidado com suas necessidades
específicas, o que pode gerar um "gasto correto" (econômico) ou um
"gasto excessivo" de nossa vitalidade orgânica ou energia vital.
Para melhor explicar isso, vamos exemplificar com o tabagismo (vício de fumar).
Estudos e pesquisas internacionais, já muito conhecidas (e reconhecidas),
provaram que o consumo de um único cigarro "custa" ao organismo
físico o desgaste orgânico equivalente a cerca de 12 a 14 minutos de vida. Isso
significa que cada 5 cigarros fumados equivalem a "diminuição" de 1
(uma) hora de vida. O que falar então do uso de drogas (tóxicos) e do
alcoolismo? Ou ainda da alimentação inadequada, excessiva? Quanto desgaste isso
tudo gera ao potencial orgânico?
Fica fácil de entender que a pessoa pode "danificar" seu corpo
físico, encurtando seu tempo de vida orgânica em relação ao seu "potencial
de vitalidade". Só isso já poria por terra a teoria de que "ninguém
morre antes da hora". Quem não cuidar das suas energias no perispírito ( o
que está ligado ao equilíbrio espiritual) e do seu corpo físico, diminui seu
tempo de vida orgânica, ou seja, "morre antes da hora". Com isso,
adquire débito energético, ou seja, necessidade de "resgate" desse
"débito" em outra(s) encanação(ões).
Analisando de um ângulo externo ao próprio complexo humano, temos que nos
lembrar que todos estamos numa vida de relação, com outros indivíduos e com a
natureza. E sofremos as conseqüências disso.
Vamos exemplificar de forma bem direta: uma determinada pessoa resolve ir a uma
festa, ingere muita bebida alcoólica, embriaga-se. De forma imprudente, vai
voltar para casa dirigindo seu veículo. Em excesso de velocidade, perde o
controle do carro, atingindo um ponto de ônibus, onde atropela e mata 3
pessoas, sendo uma criança, um jovem e um adulto.
Essas três pessoas atropeladas estavam na "sua hora de morrer"? Suas
mortes estavam "programadas"? Estava escrito? Estava
"previsto" na reencarnação de cada um?
É evidente que não, pois em caso contrário não existiria o livre arbítrio, e
tudo no mundo seria determinístico, nos tornando meros "robôs" na
passagem terrena.
Aquele motorista embriagado ceifou a vida de pessoas que tinham diferentes
potenciais de vida, de alguns anos (o adulto) a várias décadas (criança e
jovem), e que ainda poderiam viver muito com seu corpo orgânico. As três
pessoas "morreram antes da hora".
Não existe uma "programação de morte". Existe um potencial de vida,
que pode mesmo ser "estendido" pelo equilíbrio espiritual e respeito
e cuidado com o corpo físico, ou ainda, encurtado pelo próprio indivíduo ou por
terceiros, que responderão por isso nesta e em outras vidas.
Se as mortes estivessem programadas, cada movimento em todo o mundo estaria
programado. Se uma pessoa morre atropelada numa rua, na hora do
"pico" do movimento, em São Paulo, por exemplo, e isso estivesse
"programado", o atropelador já nasceria com essa "missão",
e para ajustar a sincronia entre atropelador e atropelado, todo o trânsito de
São Paulo deveria estar "programado", para que todos os envolvidos se
encontrassem naquele exato instante.
Cremos que com esses argumentos, evidencia-se que não existe "hora de
morte programada".
O que os espíritas devem cuidar é para não se tornarem crentes do determinismo,
acreditando numa "programação absoluta da reencarnação", pois isso
fere uma verdade basilar – a do livre arbítrio - , sob a qual reside grande
parte da filosofia e doutrina espírita.
É preciso estudar um pouco mais a Lei de Causa e Efeito, relacionando isso com
o estudo do registro energético do perispírito, de modo a entendermos o correto
mecanismo do "resgate e expiação.
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Carlos Augusto Parchen
Curitiba, Paraná
junho 2002
Centro Espírita Luz Eterna - CELE
NINGUÉM MORRE ANTES DA HORA? - Parte II
Por Carlos Augusto Parchen
Tenho recebido diversas perguntas, questionamentos e apoios, através do e-mail,
sobre o artigo que escrevi "Ninguém morre antes da hora?" (ver o
artigo original)
Algumas das pessoas que me escreveram, discordam de nossa posição, e afirmam
que existe sim uma hora pré-determinada para a morte de cada um, pois afinal de
contas "...nada acontece sem a vontade de Nosso Pai que está nos
Céus...".
Uma pessoa, também colocando isso, baseou-se ainda na mensagem psicofônica de
um jovem recém-desencarnado, que afirmou: "... assim como temos nossa
certidão de nascimento, no dia e hora determinado por Deus, temos nossa hora de
partir...".
Essas afirmações são verdadeiras sim, desde que devidamente contextualizadas.
Nada acontece sem que a Vontade Divina o queira, pois o Criador estabeleceu as
Leis Universais, perfeitas e justas, e tudo ocorre de acordo com essas Leis.
E as Leis são tão perfeitas que Deus nada mais precisa fazer para que elas se
concretizem. Sua vontade já está manifesta na Lei. E uma das Leis Divinas é a
que nos dá o Livre Arbítrio.
Quanto a termos "...nossa hora de partir..." , isso é
fundamentalmente uma verdade pois, obrigatoriamente, temos que partir do corpo
físico (morte ou desencarnação), e isso está estabelecido desde o momento que
reencarnamos (nascemos), pois a única certeza de que temos, é que enfrentaremos
"a hora da morte". Mas em nenhum momento isso significa que temos uma
hora ou "a hora" (dia, local, forma, etc.) para morrer.
No caso do espírito comunicante que fez a afirmação já citada, este narra, em
sua mensagem psicográfica, que na encarnação anterior cometeu suicídio, com um
tiro na cabeça. É evidente que esse espírito, nessa ocasião, morreu antes da
hora, pois se não fosse assim, teria nascido com a "missão"
(predestinação) de suicidar-se, o que seria um absurdo completo; o livre-arbítrio
teria deixado de existir.
Na encarnação seguinte, morreu de um tumor no cérebro, fruto do registro
cármico do suicídio. Mesmo assim, poderia ter morrido mais cedo ou mais tarde,
de acordo com a vida "física" e "espiritual" que praticava,
ou ainda, ter morrido atropelado naquele ponto de ônibus que usei no exemplo,
no artigo em tela, sem ter ligação nenhuma com o problema do tumor cerebral.
Afirma o jovem que a sua morte foi única e exclusiva culpa sua, o que neste
caso está corretíssimo, pois optou pelo suicídio numa vida e, em conseqüência,
"optou" pela doença na outra encarnação. No entanto, sem sombra de
dúvida, além do fato de que desenvolveria a doença cerebral, nada lhe estava
predestinado, muito menos o dia, a hora e nem mesmo a forma de sua morte, pois
poderia ter morrido de outra causa muito antes da doença atingir o estado
terminal.
Temos que refletir sobre o fato, usando a lógica, a razão e o bom-senso que nos
recomendou Kardec que, se todas as mortes violentas (e mesmo as "naturais")
estiverem programadas, o livre arbítrio não existiria no mundo.
Para exemplificar tomemos um fato real, recente, que foi noticiado nos jornais
e na televisão: um rapaz bêbado, dirigindo um veículo, perdeu o controle do
mesmo numa curva, subiu na calçada e atropelou 12 estudantes na saída de uma
escola, e sete deles morreram.
Você já imaginou que se essas sete crianças que morreram, mais as cinco que
ficaram feridas (algumas muito gravemente) "precisassem" passar por
isso, que isso lhes estivesse predestinado, numa "programação
reencarnatória", que descomunal trabalho de "manipulação" das
pessoas e da natureza o plano espiritual teria tido?
Necessitaria, por parte do "Plano Espiritual" um trabalho minucioso
para que todas essas crianças, que "deveriam" ser atropeladas, fossem
matriculadas na mesma escola, no mesmo turno, e para isso teriam que ter vagas
reservadas, teriam que morar todas próximo aquela escola ou terem recursos
financeiros para pagar o transporte escolar.
Seria necessário "programar" todos os professores, no dia do
atropelamento, para que liberassem todas as crianças das salas de aula ao mesmo
tempo, e mais difícil ainda, "tangê-las" (sim, a analogia com o gado
é verdadeira) em conjunto, para que todas elas saíssem juntas pelo portão.
Para complicar, os amigos (amigos????) espirituais deveriam organizar as
crianças para que todas estivessem reunidas na posição "certinha" e
exata para o carro lhes atropelar.
Simultaneamente, outra "equipe espiritual" estaria executando o
hercúleo e gigantesco trabalho de separar todas as crianças que "não
deveriam" ser atropeladas (mais gado tangido?), impedindo que saíssem pelo
portão e/ou fazendo com que não ficassem no lugar em que pudessem ser
atropeladas pelo veículo.
Além disso necessitariam cuidar que para o "atropelador" inicialmente
ficasse bêbado (vai que ele não queria beber naquele dia !!!), e que saísse com
seu veículo no horário exato, que todo o trânsito da cidade fosse controlado
(afinal, ele não pode atrasar), de modo a permitir que ele pudesse estar na
velocidade certa, calculada com muita precisão, e ainda que entrasse na curva
com o ângulo e trajetória certa para atingir só os que "precisam ser
atropelados".
Tudo isso necessitaria ter um ajuste temporal de milésimos de segundo, pois um átimo
mais tarde, várias crianças teriam se movido do lugar, impossibilitando o
"correto atropelamento".
Se tudo isso fosse possível, creio que o(a) leitor(a) concordaria comigo que
quem dirigia o carro não era o motorista, mas sim "a vontade divina",
e que as crianças foram colocadas propositadamente para morrer, como num
"pelotão de fuzilamento". Nesse exemplo, não existiria o
livre-arbítrio, e o que é pior, o determinismo seria absoluto. Todos estaríamos
sendo "dirigidos" por invisíveis mãos, as do destino pré-determinado.
O amigo Orson lembrou um caso acontecido em Bauru-SP, alguns anos atrás, onde
um pequeno avião fez um pouso forçado numa rua do subúrbio, percorreu longa
distância pela rua e "atropelou" uma moça que estava sozinha no final
da rua, a qual morreu instantaneamente, única vítima do acidente.
Alguém de bom-senso e utilizando a lógica e a razão poderia admitir que esta
morte estava "programada", para aquele dia e horário, e que na falta
de um carro a "espiritualidade deu um jeito", provocando a pane num
avião? Que se cuidou para que ninguém mais estivesse na trajetória percorrida
pela aeronave? Que se "organizou" a vida da moça para que estivesse
naquele exato lugar, no exato momento que um avião ia fazer o pouso de
emergência. Que se fez o avião "pifar" no exato lugar e condições
para que aquele pouso de emergência ocorresse? Se assim fosse, existiria livre
arbítrio? Para que existiríamos?
E as pessoas que sobrevivem a graves desastres onde várias outras morreram,
foram "escolhidas" e "protegidas" para não morrerem? Se
admitirmos que isso é verdade, o poder da vida e da morte (portanto, do
destino) estaria nas mãos do "plano espiritual", a quem caberia
"fazer" os desastres acontecerem, determinar quem deveria morrer e
quem deveria sobreviver, baseado numa suposta "programação
reencarnatória". Desapareceriam as responsabilidades dos
"supostos" causadores ou responsáveis materiais dos problemas, dos
acidentes e desastres, das mortes, pois apenas estariam dando cumprimento e
seguimento a uma "programação divina", sem possibilidades outras que
não cumprir o destino, o que estava escrito, o que estava determinado. Seríamos
infelizes marionetes.
Desculpe o(a) leitor(a) pelo tom de ironia nos parênteses e "entre
aspas" colocado, mas meu objetivo é enfatizar, e se preciso, até mesmo
"chocar". Não sou e nem pretendo ser "dono da verdade", mas
procuro seguir os postulados de Kardec, e prefiro errar pelo excesso do que
pela omissão. Mas sempre utilizando a lógica e a razão.
Lamento apenas o pensamento fatalista e determinista de alguns espíritas.
Se as mortes violentas estivessem realmente programadas, seríamos todos meros
"robôs" do destino. Não haveria "culpas" nem
"responsabilidades". Os assassinos nasceriam para matar, portanto não
seriam culpados, e pelo contrário, seriam instrumentos da "Justiça
Divina".
Se mortes violentas e assassinatos ocorressem pela "Vontade Divina"
("....nada acontece sem a vontade de Deus"...), estaríamos diante de
um "deus" cruel e vingativo (o do Antigo Testamento).
Recordemos-nos, no entanto, que em O Livro dos Espíritos e no restante das
Obras Básicas da Codificação, o que se vê, princípio peremptório, é que o Livre
Arbítrio, atributo básico do espírito, é inviolável.
Portanto, nessa "equação" entre o bem, o mal, a vida e a morte, tudo
está relacionado e decorrente da utilização de nosso livre arbítrio, onde temos
inclusive a possibilidade de mudar a vida, a duração ou até mesmo a época da
morte nossa e de outras pessoas. E por isso assumimos responsabilidades.
Infelizmente, muitos espíritas interpretam mal as Obras Básicas, não as estudam
adequadamente, em seu conjunto. Não procuram utilizar o bom senso, o
raciocínio, a lógica e a razão, como tão bem nos preconizou o mestre Kardec.
Sigamos o que disse o Mestre Jesus: "Conheceis a Verdade, e a Verdade Vos
Libertará". E como, analogicamente, complementou Kardec –
"...Espíritas, amai-vos e instruí-vos...".
Com humildade e dedicação, busquemos a Verdade. A que nos é possível agora, mas
que nos abrirá adiante a porta da felicidade e da Verdade Maior.